Amo Natal e seus poetas em cada esquina. Amo, sobretudo as poetisas, essas fêmeas desenfreadas que carregam coragem e quase certezas. Amo Marize, amo Iracema, amo Civone, amo Zila, Ada, Nísia, Auta e tantas outras potiguares que se aventuram a dizer o mundo em palavras, traços e imagens. 
No mais, a beleza de celebrar nossos poetas. 
O RITO DE CARMEM 
Iracema Macedo
Ela é uma forma de alucinação 
de hino ao perigo 
e ao furor 
Perfuma-se com um poema 
e se apronta 
como quem vai ao cinema 
Parece que não há riscos 
em tudo que ela faz 
mas ela acorda e dorme 
sitiada 
Mulher em que se atira facas 
ela recebe os golpes um a um 
Arremessos de perda, luxúria, ciúme 
No centro do picadeiro 
Um homem de olhos vendados 
ameaça matá-la 
todas as noites 
diante dos aplausos inocentes 
Erma
Marize Castro
Recolho-me tão profundamente
que tudo me alcança:
mísseis, desastres, lanças.
Recostada ao rosto de Deus
pedi-lhe a fé perdida
a palavra antiga – invencível.
Ele me deu o mar no nome
e uma fome borgeana, dizendo-me:
Eis sua herança, jovem senhora
de velhíssima alma e furiosas lembranças.
Ada Lima
Feneça na água
a dor de ser
o que não se pode ter.
+ Ada
Ele me deu um buquê.
As flores eram de vidro
lindas
mas cortaram-me os pés
quando o buquê espatifou-se no chão.
Minhas mãos não suportaram o peso.
BOIS DORMINDO 
ZILA MAMEDE
A paz dos bois dormindo era tamanha 
(mas grave era tristeza do seu sono) 
e tanto era o silêncio da campina 
que ouviam nascer as açucenas. 
No sono os bois seguiam tangerinos 
que abandonando relhos e chicotes 
tangiam-nos serenos com as cantigas 
aboiadeiras e um bastão de lírios. 
Os bois assim dormindo caminhavam 
destino não de bois mas de meninos 
libertos que vadiassem chão de feno; 
e ausentes de limites e porteiras 
arquitetassem sonhos (sem currais) 
nessa paz outonal de bois dormindo.
MICHELLE FERRET
Pré face
Dar a cara a tapa
numa leve busca por luvas ásperas 
doar
letras e sentidos
loucos espaços de nada
sendo tudo
As palavras aqui ganham um vestido
colorido ao olhos de quem lê
vestindo a solidão, o amor, as horas de desespero e o prazer
ele está rasgado 
esperando colo
...
Nessa hora os homens se apagam
velam a cidade com frio
os ônibus não passam por aqui
nem os velhos,
eles dormem
ficaram só os postes como testemunhas
os prédios apagaram
só restou um vagão aceso
e em mim um incêndio acontece
...
Desejo as cinzas e as oferto.
É bom ler poemas femininos, numa segunda-feira q já começa agitada. Eleva a alma dos problemas cotidianos. Abs,
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